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da classe média acham que o rico é perdulário, que joga
dinheiro fora, que não se dá bem com a família. A tendência
deles é receber a informação que as marcas estão passando e
devolver do jeito deles.
A classe C tem um jeito próprio de usar os produtos. Eles
querem e consomem as mesmas marcas que os indivíduos das
classes AB, mas de um jeito diferente. Enquanto o rico usa
uma camisa Lacoste lisa, apenas com o crocodilozinho que é o
símbolo, o classe C quer aquela que tem uma grande faixa no
meio do peito. Usam a mesma camisa Polo, mas escolhem a
que tem o símbolo bem grande. Eles querem cores, brilho, mas
querem produtos de qualidade.
COM ESSE NOVO “PÚBLICO CONSUMIDOR”,
COMO FICA O PARALELO CULTURAL X
PODER AQUISITIVO?
RENATO MEIRELLES:
Veja que o consumo é a
primeira etapa que essa população está vivenciando. Em
seguida vem a valorização da cultura local, que já pode
ser percebida com o sucesso de artistas como a Gaby
Amarantos; com a popularização do Hip Hop e com a
consagração do pagode.
O DATA POPULAR APUROU, RECENTEMENTE,
QUE MUITAS GRIFES NÃO QUEREM TER SUA
IMAGEMASSOCIADA À CLASSE C. O QUE
ELAS PERDEM COM ISSO?
É POSSÍVEL MUDAR AMENTALIDADE
DESSAS EMPRESAS?
RENATO MEIRELLES:
Não tenho dúvidas. Durante
o período do fenômeno dos rolezinhos, fomos procurados
por duas empresas que não queriam ter os seus nomes
associados aos jovens – e que não aparecessem mais nas
letras das músicas. Por outro lado, seis empresas nos
procuraram pelo motivo oposto. Elas querem ser lembradas
por esses jovens, que são os principais frequentadores dos
shopping centers. A classe C brasileira concentra 30,7
milhões de jovens com idades de 16 a 24 anos. Desses, 54%
vão ao shopping com frequência – de três a seis vezes por
mês. Essa parcela da população tem uma massa de renda
superior à soma da renda dos jovens das classes alta e baixa
somadas. São R$ 229 bilhões em renda própria, disponível
para o consumo.
Penso que os shoppings poderiam ter capitalizado mais
durante os rolezinhos, convidando esses jovens da periferia
para irem ao shopping nos momentos de fluxo baixo. Por
que não encher as salas de cinema e a praça de alimentação
nos domingos de manhã?
Mas as marcas, as empresas e alguns empreendimentos ainda
estão ligados apenas à classe AB, que exige exclusividade e,
por isso, deixa de consumir em determinadas lojas quando
percebe a presença de indivíduos da classe C.