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RENATO MEIRELLES
ENTREVISTA
COMO SURGIU O DATA POPULAR?
RENATO MEIRELLES:
Começamos em 2001, antes
de ser moda falar das classes C e D, coincidentemente
na mesma época em que o Goldman & Sachs lançou
o Relatório sobre os BRIC’s, afirmando que países
considerados emergentes, como o Brasil, a Rússia, a
Índia e a China seriam o futuro da economia. A ideia era
criar um centro de inteligência sobre o Brasil Emergente.
Tivemos quatro anos de prejuízo porque as empresas não
acreditavam na força de consumo desta população.
Agora, a realidade mudou.
QUAIS SÃOAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
DA CLASSEMÉDIA BRASILEIRA?
RENATO MEIRELLES:
A Classe C é um contingente
que movimenta R$ 1,17 trilhão em consumo. Se for
comparada aos principais países consumidores, poderíamos
dizer que é o 18º - estaria, então, no G20 do consumo
mundial. Essa população está descobrindo novas categorias
de produtos, como comprar, como pagar. Eles precisam de
informação. Para os consumidores da Classe C as marcas
funcionam como um selo de qualidade do produto, como
uma garantia. Assim, eles são mais fiéis às marcas que
consomem do que os membros das classes AB.
QUE TIPO DE PRODUTO ESSE NOVO
CONSUMIDOR DESEJA?
RENATO MEIRELLES:
Percebemos o crescimento
na procura por artigos de tecnologia – especialmente
computadores, tablets, smartphones e, neste ano de Copa
do Mundo de Futebol, televisores. Serviços de educação
também. E produtos e serviços relacionados à beleza – de
idas ao salão até cirurgias plásticas!
Houve um aumento efetivo nas vendas de roupas e
maquiagens para a classe média, o que reflete o forte
crescimento da presença feminina no mercado de trabalho.
Nos últimos 10 anos, aumentou em 38% o número de
mulheres, mas esse índice chega a 168% de aumento no
número de mulheres com carteira de trabalho assinada.
COMO AS MARCAS PODEM CONQUISTAR
ESSE NOVO CONSUMIDOR?
E O QUE DEVEM EVITAR?
RENATOMEIRELLES:
Quanto mais historicamente
elitizada é uma marca, mais tempo ela demora para ver que
o público consumidor mudou. A aviação, por exemplo, é um
segmento que se adaptou rapidamente a esse novo consumidor –
até pouco tempo atrás, viajar de avião era uma atividade restrita
às pessoas de maior poder aquisitivo; agora, estão totalmente
adaptadas aos novos passageiros, considerando que o número
de pessoas que viajam de avião pela primeira vez alavancou as
vendas de passagens aéreas. As empresas que olharem primeiro
para esse nicho vão ganhar. O segmento de perfumaria e beleza,
por exemplo, já está atento: 53% das vendas com ticket superior
a R$ 350 são feitas para pessoas da classe C.
A Classe C quer que as marcas ajudem a realizar a compra, que
ensinem como fazer. As companhias aéreas têm manuais para
quem viaja de avião pela primeira vez; os shoppings precisam
informar que todos os públicos são bem-vindos; as empresas
de tecnologia criam tutoriais detalhados sobre como utilizar
smartphones e computadores.
Para entrar em contato com esse público, as empresas precisam,
antes de tudo, de um posicionamento que fale de igual para igual
com o consumidor. Sem arrogância, sem prepotência.
EXISTE A NECESSIDADE DE SE
DESENVOLVER PRODUTOS ESPECÍFICOS
PARA ESSA POPULAÇÃO OU APENAS MUDAR
O DIRECIONAMENTO DAS CAMPANHAS
PUBLICITÁRIAS?
RENATO MEIRELLES:
As marcas, especialmente de
varejo, precisam entender que o aspiracional da Classe C não
é ser a Classe A. A aspiração deles é o vizinho! Os membros
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