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O mês de junho de 2013 prometia entrar para a história do
Brasil depois de dezenas de manifestações populares, que
levaram milhões de brasileiros às ruas. Em pauta, o clamor
pela redução nas tarifas do transporte público deu lugar a uma
série de outras reivindicações, como a melhora nos sistemas
de Saúde e Educação, a desmilitarização da polícia
e a luta contra a corrupção. Esperava-se que o feriado
de 7 de setembro, data em que se comemora a Independência
do país, movimentasse a mesma legião de pessoas, o que acabou
não acontecendo. Mesmo assim, algumas questões ficaram
no ar: qual será o rumo da Democracia no Brasil? Os jovens
conquistaram o poder? Os partidos políticos irão se reorganizar?
Afinal, o Gigante acordou? Para responder a essas questões,
a Revista Al Shop conversou com Sonia Fleury. Doutora em
Ciência Política pelo IUPERJ, Mestre em Sociologia pelo
IUPERJ e Bacharel em Psicologia pela UFMG, Sonia atua como
professora titular da Escola Brasileira de Administração Pública
e de Empresas (EBAPE) da Fundação Getúlio Vargas, onde é
coordenadora do Programa de Estudos sobre a Esfera Pública.
Como fica a democracia, no Brasil,
após as manifestações de junho?
O SONO DO GIGANTE
O GIGANTE, REALMENTE, ACORDOU?
SONIA FLEURY:
Tenho a impressão de que a expressão
é equívocada. Claro que houve uma grande mobilização, mas
se desconhece o trabalho de formiguinha que vem sendo feito
nas comunidades e nas periferias. A população não estava
em estado de letargia, muita coisa já estava acontecendo,
como debates sobre o controle da mídia por exemplo. Não
podemos desconhecer o trabalho subterrâneo: há muitos
grupos, discutindo uma multiplicidade de questões; grupos
organizados que trabalham na coleta de assinaturas para a
reforma política, na destinação de 10% do orçamento federal
para a saúde, entre outros temas.
Isso que vimos nas ruas não aconteceu por acaso.
Existem milhões de movimentos nas favelas e periferias
em busca da sua identidade cultural – como o que defende
o Funk como representação cultural da comunidade.
A favela não se cala. E os jovens estão se organizando e
discutindo a própria situação.
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