Boletim Econômico – 29 de janeiro a 2 de fevereiro

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Antes de falarmos sobre o cenário econômico para a semana, destacamos a pesquisa do SPC Brasil e CNDL sobre a Reforma da Previdência. Segundo o levantamento, 66% dos entrevistados consideram importante a aprovação da reforma da previdência, discussão que vem sendo tratada como prioridade pelos poderes executivo, legislativo e por especialistas na área fiscal. Para 27% a reforma não é importante, ao passo que 7% não têm uma opinião formada a respeito.

De modo geral, as mudanças recentes na política econômica do governo são consideradas importantes para 79% dos empresários consultados contra 13% que rejeitam a importância dessas ações. Os que defendem que o próximo presidente dê continuidade a agenda de mudanças na condução da economia formam 75% dos empresários, ainda que 70% considerem necessário algum tipo de correção nas medidas.

O mesmo estudo aponta ainda que 70% dos comerciantes e empresários que atuam no segmento de serviços consideram importante a recente reforma trabalhista contra 23% de reprovação. No caso da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que estipula um teto de gastos do governo, são 73% que avaliam a medida como importante.

Para o presidente da CNDL, José Cesar da Costa, a reforma da previdência é um tema que gera polêmica, mas que não pode ser tratado como tabu. “A evolução da situação demográfica brasileira e o orçamento deficitário público agravado nos últimos anos já influenciam a opinião pública de que o Brasil terá de fazer mudanças profundas, duras e necessárias. Ainda que os empresários discordem de alguns pontos, a reforma da previdência é algo inevitável”, explica o presidente.

Destaques da Semana
– Semana contará com divulgação dos dados dos mercados de crédito e de trabalho, além da produção industrial, e nos EUA, destaque para a reunião do FOMC

A agenda doméstica contará com a divulgação, ainda hoje, da nota de crédito de dezembro, a qual deve reforçar o descompasso observado entre crédito PF e PJ dos últimos meses. Além disso, o resultado do mesmo mês da PNAD Contínua será conhecido na quarta-feira, sendo que após forte expansão no mercado informal observada nos últimos meses, deveremos observar ligeira desaceleração no ritmo de criação de vagas, com inflação de salários sob controle. No dia seguinte, serão divulgados os dados da produção industrial também referentes a dezembro, para a qual esperamos alta de 2,4% na margem, resultado que deve ser “devolvido” em janeiro. Por fim, projetamos variação de 0,77% para o IGP-M de janeiro, número ainda pressionado pelo minério de ferro. Na agenda internacional, esperamos manutenção de juros pelo FOMC, na quarta-feira, e será importante observar possível sinalização de alta para a reunião de março. Ademais, serão conhecidos os dados do mercado de trabalho dos EUA, na sexta-feira. Na Zona do Euro, o PIB do 4º trimestre, a ser divulgado amanhã, deverá mostrar manutenção do forte ritmo de crescimento observado no período anterior, enquanto o CPI deverá reforçar a visão de inflação ainda baixa na região.

Atividade
– FGV: confiança do empresário industrial ficou estável em janeiro, mas em patamar elevado
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) ficou estável na passagem de dezembro para janeiro, em 99,4 pontos, conforme divulgado há pouco pela FGV. Trata-se de um patamar um pouco inferior ao apontado na prévia reportada da semana passada, de 99,9 pontos. Ainda assim, o indicador está em nível bastante elevado e com trajetória de alta. Na abertura do ICI, o componente de situação atual avançou de 98,5 para 100,9 pontos, enquanto o de expectativas recuou de 100,4 para 98,0 pontos, após seis elevações consecutivas. De modo geral, não alteramos nossa percepção de recuperação da atividade econômica nos próximos meses, o que é reforçado pelo conjunto de dados divulgados.

– Caged: criação de vagas formais em dezembro reforçou tendência de recuperação do mercado de trabalho
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na sexta-feira, surpreenderam positivamente. O fechamento líquido de vagas formais de trabalho foi de 328,5 mil em dezembro, inferior ao esperado, de redução de 395,0 mil vagas. Por questões relacionadas à sazonalidade, o último mês do ano costuma apresentar saldo negativo, e em 2017 tivemos o melhor resultado desde 2007. No ano, foram fechadas 123,0 mil vagas (ante redução de 1,3 milhão de vagas em 2016). Descontados os efeitos sazonais, foram criados 63,0 mil empregos em dezembro, mantendo a tendência de recuperação do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, o salário médio dos admitidos continua mostrando desaceleração, constituindo um vetor benigno para a inflação.

– CNI: confiança do empresário da indústria da construção seguiu em alta em janeiro
O indicador de nível de atividade da indústria da construção recuou 1,9 ponto na passagem de novembro para dezembro, atingindo 44,9 pontos, segundo a Sondagem da Indústria da Construção, da CNI. Trata-se de um patamar inferior ao neutro (50,0 pontos), sugerindo contração, porém melhor do que o observado no mesmo período de 2016 (37,9 pontos). O índice de número de empregados também recuou 1,9 ponto, chegando a 43,0 pontos, acima dos 36,0 pontos registrados no mesmo período do ano anterior. Já o índice de confiança do empresário do setor, referente ao mês corrente, manteve a trajetória de alta iniciada em agosto, alcançando 57,2 pontos em janeiro, maior nível desde janeiro de 2013 e acima da média histórica, de 52,8 pontos. Esses resultados estão alinhados com outras sondagens do setor e reforçam a trajetória de recuperação da atividade econômica.

Setor Externo
– BC: déficit em conta corrente como proporção do PIB atingiu o menor patamar dos últimos dez anos em 2017
O saldo em transações correntes foi negativo em US$ 4,3 bilhões em dezembro, de acordo com os dados divulgados na sexta-feira pelo Banco Central. No acumulado de 2017, o saldo foi negativo em US$ 9,8 bilhões, equivalentes a 0,48% do PIB, configurando o menor déficit dos últimos anos nessa métrica, resultado do ajuste externo. No acumulado do ano, destacamos o forte superávit da balança comercial, de US$ 64,0 bilhões, impulsionado pelas exportações. Por outro lado, as rubricas de serviços e de renda primária registraram déficits de US$ 33,9 bilhões e US$ 42,6 bilhões, nessa ordem, com piora em relação ao ano anterior. Na conta financeira, os investimentos diretos no País (IDP) registraram entrada liquida de US$ 5,4 bilhões em dezembro e encerraram o ano com superávit de US$ 70,3 bilhões, o menor desde 2013. Assim, a necessidade de financiamento externo (déficit em transações correntes menos IDP) passou de US$ 54,7 bilhões em 2016 para US$ 60,5 bilhões em 2017. Por fim, a taxa de rolagem da dívida externa de longo prazo foi de 99% no ano encerrado.

Fiscal
– Receita Federal: arrecadação total registrou crescimento real de 0,59% em 2017
A arrecadação total da Receita Federal foi de R$ 137,8 bilhões em dezembro, abaixo do esperado, de R$ 139,0 bilhões. Tal montante é o maior para este mês desde 2014 e representa um crescimento real de 4,93% em relação ao mesmo período de 2016. No ano, o total arrecadado cresceu 0,59% em termos reais, após o recuo de 3,00% observado no ano anterior. A recuperação da atividade deverá continuar beneficiando a arrecadação, que ainda será influenciada por leilões e concessões previstos para os próximos meses.

Internacional
– EUA: contribuição negativa dos estoques explica desaceleração do PIB no quarto trimestre de 2017
O PIB dos Estados Unidos cresceu 2,6% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior, em termos anualizados, conforme divulgado na última sexta-feira. O resultado ficou abaixo da nossa projeção e da mediana das expectativas do mercado, que apontavam para altas de 3,1% e de 3,2%, nessa ordem. Apesar do resultado mais fraco do que o esperado, a composição foi bastante positiva, com aceleração nas taxas do consumo privado, para 3,8% (ante 2,2%), dos investimentos em ativos fixos, para 7,9% (ante 2,4%) e dos gastos do governo, para 3,0% (ante 0,7%). Os investimentos residenciais, por sua vez, registram variação de 11,6%, a contração de 4,7% no terceiro trimestre. Do lado negativo, destacamos as contribuições negativas dos estoques e do setor externo (-0,7 e -1,3 p.p., respectivamente), que em grande medida justificaram a desaceleração da economia norte-americana nos últimos meses de 2017. Tal resultado levou o crescimento do PIB em 2017 a 2,3%. Dessa forma, a abertura do resultado do PIB reforça a percepção de que a atividade continua crescendo em ritmo forte, em linha com nosso cenário de aceleração do crescimento ao longo de 2018, que deve atingir 2,5%.

Tendências de Mercado
– Os mercados acionários operam sem direção única nesta segunda-feira,. Enquanto as bolsas europeias estão no campo positivo, a japonesa encerrou o pregão em queda. Já os índices futuros das bolsas norte-americanas estão no campo negativo. No mercado de divisas, o dólar ganha valor ante as principais moedas, devolvendo parte da depreciação registrada nas semanas anteriores.

No mercado de commodities, as cotações do petróleo operam próximas à estabilidade, enquanto os metais industriais registram quedas, impulsionadas pelo fortalecimento do dólar. Por fim, as agrícolas estão com ligeira alta.

No Brasil, o mercado de juros deve reagir às projeções contidas no relatório Focus, divulgado há pouco pelo Banco Central.