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Internacionalizar a franquia é um caminho para fugir de instabilidades econômicas – e conquistar novo(s) mercado(s)
Os dados de crescimento do setor de franquias ratificam o profissionalismo e dedicação com que as marcas e franqueados enfrentaram o desafiador cenário econômico brasileiro no ano que passou. Essa situação complicada, inclusive, levou algumas marcas a repensarem a sua estratégia e, ao invés de continuarem a expansão em solo brasileiro, atravessar as fronteiras e ganhar o mundo!
Números “globais”
A Federação Dom Cabral, importante escola de negócios brasileira, acompanha de perto a atuação dessas empresas. Anualmente, a entidade prepara o Ranking de Internacionalização de Franquias Brasileiras, a partir da consulta a 64 organização – 14 delas atuam no exterior por meio de franquias, o restante são multinacionais brasileiras.
O Ranking revela que há empresas brasileiras em todos os continentes, em 99 países – sendo os EUA aquele com a maior concentração dessas empresas. Em seguida, estão os países da América do Sul (Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Paraguai). A China, distante física e culturalmente do Brasil, aparece como o 5º país que mais recebe empresas brasileiras.
De acordo com a pesquisa da ABF, atualmente 138 marcas nacionais operam fora do Brasil, em 61 países. Deste total, 130 possuem unidades e 12 são exportadoras (8 apenas exportam e 4 também possuem unidades lá fora), enviando seus produtos para 80 destinos em todo o mundo. Em 2015, eram 134 redes presentes em 60 nações.
No ano passado, 14 novos países passaram a contar com operações de redes brasileiras: Antígua e Barbuda, Congo, Dominica, Granada, Ilhas Virgens Britânicas, Índia, Israel, Jamaica, Jordânia, Marrocos, São Cristóvão e Neves, Suriname, Tailândia e Turquia. Além disso, 11 marcas brasileiras se internacionalizaram: Acaí Concept, Arquivar – Gestão de Documentos, Colchão Inteligente – Postural, Fast Acaí, Guia-se Negócios pela Internet, Limpidus, Nutty Bavarian, Ronaldo Academy, Sergios, Socila e UPTIME – Comunicação em Inglês.
O estudo da Fundação Dom Cabral elenca, com base nos dados sobre unidades franqueadas, receita de royalties e taxas e receita de vendas de produtos franqueados no exterior as seguintes marcas: Localiza, iGUi Piscinas, Dudalina, Fábrica de Chocolate, Giraffas, Carmen Steffens, Magrass, Puket, Hering e Vivenda do Camarão.
De todas as marcas entrevistadas, 78% acreditam que o ato de internacionalizar ajuda a “diminuir a dependência do mercado brasileiro e a reduzir os riscos do negócio”, declara o pesquisador do Núcleo de Estratégia e Negócios Internacionais a Dom Cabral, Sherban Leonardo Cretoiu.
Ele reitera que o “dinamismo do mundo globalizado, a velocidade na realização de negócios e a crescente interdependência entre os países têm imposto às empresas o desafio de tomar decisões que contemplem vários cenários e culturas, considerando variáveis que possam afetar o desempenho de seus negócios”, diz.
Estudando o terreno
Em comum, ambos os relatórios destacam que segmentos mais internacionalizados do franchising brasileiro são Moda, com 27,5% de participação, seguido de Alimentação (15,9%) e Saúde, Beleza e Bem-Estar (14,5%). E que os EUA ainda são o destino mais procurado pelas marcas.
Esse aumento das marcas brasileiras nos Estados unidos tem, por parte das franqueadoras, objetivo inicial de testar a operação num mercado atraente e altamente competitivo. Mas é necessário estudar esse, e qualquer outro mercado, efetivamente antes de iniciar a internacionalização.
A Vivenda do Camarão, empresa criada há 33 anos e presença constante nas praças de alimentação do país, tentou seguir o mesmo caminho e "fazer a América". Seu fundador, Fernando Perri, conta que imaginava que os seus produtos fariam bastante sucesso nos EUA, pela qualidade e pelo sabor.
"Não fizemos uma pesquisa de mercado adequada sobre os hábitos de alimentação e consumo dos americanos", lamenta Perri. Ele conta que, depois de montar as operações "internacionais", perceberam que as Praças de alimentação norte americanas não têm a mesma variedade de opções – e que o público leva de 5 a 10 minutos para fazer a refeição. Logo, a Vivenda não entrou no radar do consumidor. "No jantar, eles gostam de ir a restaurantes tradicionais, de rua. Ficamos sem nicho de mercado", explica o empreendedor.
Mesmo depois dessa decepção, Perri persistiu na internacionalização da marca. Atualmente, a Vivenda do Camarão tem operações em Portugal, por meio de um master franqueado. "Os Europeus têm hábitos de alimentação mais parecidos com o nosso, são mais lentos", assegura.
Nova tentativa
A nova frente de expansão da marca é bem mais ousada. Em processo de negociação com um master franqueado chinês, Perri se anima com a expectativa da nova empreitada. Isso porque, devido ao tamanho continental do país e a densidade da sua população, a Vivenda chegará à China com algo em torno de 400 operações – número 60% maior do que as operações que mantêm hoje no Brasil.
"Quando iniciamos essa negociação com o mercado chinês fizemos uma grande pesquisa, tivemos muitas conversas e verificamos hábitos e costumes", enumera Perri, até para evitar o mesmo equívoco cometido nos EUA. "Apesar das diferenças, o tipo de refeição que eles consomem são mais semelhantes às nossas. E eles são alucinados com marcas estrangeiras", reitera o porta-voz da marca.
E há outros fatores favoráveis: a população, de 1.357 bilhões de pessoas, tem uma classe média-alta 40 vezes maior do que a anotada no Brasil. No mínimo, 800 milhões de chineses têm poder aquisitivo para fazer as refeições fora de casa, contra 20 milhões de brasileiros.
Perri lista outros benefícios em internacionalizar a sua franquia. Uma delas é fugir do protecionismo encontrado no próprio Brasil – e na Europa também – quanto aos ingredientes e insumos preparados na cozinha central. A legislação também não é problema: menos burocrática, permite a concretização do negócio sem sobressaltos.
Para o diretor de internacionalização e franquias da Alshop, Ricardo Camargo, “a maior profissionalização, o aumento da competitividade entre as empresas, com a vinda de redes estrangeiras para o Brasil, também têm contribuído para a expansão internacional das marcas brasileiras. E o que podemos observar também é que há certa mudança na cultura exportadora do Brasil, um país que por ter um mercado interno muito grande somente há poucas décadas começou a mirar o exterior”.
América do Sul
A expansão das marcas pela América Latina e países de língua portuguesa é outra vertente em alta – e está relacionada tanto à localização geográfica quanto à similaridade do idioma. E um dos países de maior destaque é o Paraguai, que já abriga diversas redes brasileiras.
Camargo, aposta nesse caminho. “A decisão empresarial de expandir as atividades a outros países e continentes tem se revelado particularmente importante em períodos adversos da economia brasileira, oferecendo às empresas a possiblidade de garantir resultados, lucratividade e competitividade a partir das operações no exterior”, avalia.
Para ele, Colômbia, Peru, Paraguai, Chile, Argentina e Bolívia, nessa ordem, são os que oferecem as melhores oportunidades para as franquias brasileiras expandirem as suas fronteiras. Camargo reitera que marcas como Hering, Vivenda dos Camarões e iGUi como exemplos a serem seguidos e indica os segmentos que melhor recebem as marcas brasileiras: têxteis, calçados, alimentação e beleza & saúde.
Se analisado “em bloco”, pode ser interessante considerar a América Central.
Camargo ressalta: “antes de iniciar o plano de internacionalização da franquia, certifique-se de que a sua marca pode ser registrada naquele país”. Tomado esse cuidado, é simples levá-la aos outros países. O franchising só é regulamentado em poucos países – Brasil, EUA, Argentina e França possuem leis específicas. “Nos outros mercados, os cuidados necessários, além do estudo de comportamento e consumo, são os contratos. Fora isso, o importante é vender”, pontua.