Investidor troca empresas de matéria-prima por varejistas

A crise financeira europeia tem feito com que os investidores fiquem preocupados com o futuro da exportação brasileira. Com isso, as ações de empresas que negociam commodities apresentaram forte desvalorização na semana passada, enquanto as companhias do setor de varejo tiveram alta, ainda, com a expectativa de fortalecimento do consumo interno.

O melhor desempenho ficou com as ações ordinárias da Lojas Renner, que apresentou valorização de 5,82% na semana, enquanto o Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&F Bovespa) encerrou o período com desvalorização de 4,99%.

O pior desempenho entre as companhias de varejo ficou com as ações ordinárias da B2W Varejo, com forte retração de 9,88%. De acordo com analistas de mercado, o papel da companhia obteve este desempenho devido ao fraco resultado obtido em seu balanço financeiro referente ao primeiro trimestre de 2010.

“O balanço da B2W veio fraco, muito abaixo do esperado pelo mercado, por isso a empresa obteve uma forte queda”, explica Fausto Gouveia, economista da Legan Asset Management. “Os estrangeiros aproveitaram a crise na Europa para realizar uma troca de ativos, saindo de empresas de commodities e partindo para as companhias de consumo interno”, acrescenta o economista da Legan.

Para William Alves, analista da XP Investimentos, os investidores têm procurado por empresas que apresentaram bom resultado financeiro no trimestre. “A crise na Europa ainda não trouxe ao Brasil um problema na economia real. Os brasileiros continuam consumindo. Acredito que os investidores estão de olho nos resultados das empresas e da economia brasileira”, acredita Alves. O analista lembra que nossa economia é bem diferente da economia chinesa. Na China, os investidores costumam fazer poupança para realização de investimentos, já no Brasil, o investidor só consome, o que pode trazer algum problema para o país futuramente, por falta de grandes e bons investimentos.

Segundo dados da BM&F Bovespa, os investidores estrangeiros, até o dia 19 de maio, retiraram do nosso mercado R$ 3,089 bilhões. Com isso, a participação do estrangeiro no mercado de capitais brasileiro vem apresentando leve queda. No ano, a fatia deste investidor está em 27,6%, enquanto a participação da pessoa física passou para 29,2%. “Qualquer carteira de ações tem que ter papel de consumo e, no momento, é uma tendência, com a massa consumidora no Brasil que é bem elevada, além de uma taxa de juros ainda em patamares de baixa, apesar de saber que o juros vai subir”, diz Alves.

As ações preferenciais da Saraiva apresentaram forte desvalorização na semana, o papel encerrou com queda de 8%. Os papéis ON da Drogasil também fecharam a semana com grande retração de 9,88%. “Apesar da forte queda dessas empresas, não podemos levar muito em conta porque são empresas que não tem muita liquidez na Bolsa, ou seja, são ações que não ditam o rumo do mercado”, alega Gouveia.

O Índice de Consumo (ICON) da BM&F Bovespa, que tem o objetivo de oferecer uma visão segmentada do mercado acionário, medindo o comportamento das ações das empresas representativas dos setores de consumo cíclico e não-cíclico na Bolsa, finalizou a semana com queda de 2,54%, bem abaixo do Ibovespa.

O Ibovespa encerrou a sexta-feira (21/05) com forte valorização de 3,55%, aos 60.259 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,559 bilhões, com 504.350 contratos negociados no dia. A maior alta do indicador ficou com Klabin PN, com elevação de 9,97%.