Infraestrutura saturada pode brecar crescimento brasileiro

Economistas são comedidos na hora de prever qual será o peso dos países do BRIC, formado pelos emergentes Brasil, Rússia, Índia e China, nos próximos anos. Dentre problemas como corrupção e falta de investimento em infraestrutura, especialistas questionam a capacidade destes emergentes de sustentar um avanço econômico acima da média mundial.

O professor de economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP) Carlos Eduardo Soares Gonçalves, acredita que, mais importante do que em quanto tempo os países do Bric superarão os países ricos, são as perspectivas para esse crescimento. A pergunta essencial para ele é: “será que esses países conseguirão continuar crescendo mais rapidamente durante muito tempo”? Para Gonçalves, a questão da infraestrutura e o capital humano (não qualificado) são claros entraves ao crescimento do Brasil, por exemplo. “Se o País continuar com crescimento de 5% a 6% ao ano, entre 2013 e 2016, a infraestrutura vai pedir arrego. Precisamos de uma reforma na política fiscal que priorize o investimento em infraestrutura”, afirmou o professor da USP.

O professor Maurício de Paula Pinto, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a presença desses países no cenário mundial continuará sendo menor do que a de países desenvolvidos. “Naturalmente, o peso potencial dos países do Bric no mundo continuará sendo forte, devido ao tamanho de suas populações e a sua extensão territorial, mas seus problemas internos também são grandes, e por isso sua presença no cenário mundial continuará sendo menor que o potencial desses grandes países, e o centro da economia internacional permanecerá mais ou menos onde está hoje”, disse professor. Para o economista, os países do Bric crescem rapidamente, mas há ainda muito espaço a percorrer antes de eles aproveitarem plenamente o potencial oferecido por suas extensões físicas, e antes de tudo é necessário observar que há amplas diferenças entre os países desse grupo.

“A renda per capita mais alta do grupo, a da Rússia, é aproximadamente cinco vezes a renda do mais pobre, a Índia, enquanto as rendas per capita do Brasil e da China correspondem, ainda aproximadamente, à metade da renda russa. Por outro lado, lembramos a famosa declaração de um político russo afirmando que se a Rússia tiver sorte nas próximas décadas, ela pode chegar ao nível de renda per capita de Portugal, um dos menores da Europa Ocidental”, afirmou o professor da UnB.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o crescimento global para 2010 será de 3,9%. A China, segundo estimativa do fundo, crescerá 10%, seguida da Índia, com 7,7%, do Brasil, com 4,7% e da Rússia, com 3,6%. Já o crescimento dos Estados Unidos deverá ficar em 2,7%.

No caso da economia brasileira, a grande necessidade de commodities (mercadorias), principalmente minerais e de gêneros agrícolas, por parte da China e da Índia, impulsonará este avanço, já que o Brasil é um grande produtor de alimentos. Já a situação da China e da Índia são bastante parecidas. Por serem relativamente pobres, a rentabilidade dos investimentos é alta, pois os dois países ainda são descapitalizados e têm muito espaço para crescer.

Para Gonçalves, a situação mais complicada é a da Rússia, por ser um país, mesmo que rico devido à produção do petróleo, povoado pela corrupção e com mercados que não funcionam direito. “A questão institucional é tão frágil, o governo é tão ineficiente e o judiciário é tão corrupto, que nem mesmo com a riqueza natural consegue se beneficiar rmuito”, disse o professor da FEA-USP.