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Motivação, inteligência emocional e muito brilho no olho: os diferenciais do chocolateiro mais querido do país
Aos 17 anos, Alexandre Costa pegou US$ 500 emprestados de um tio para cumprir o compromisso de entregar 2000 mil ovos de Páscoa de 50 g – produto que ele já tinha vendido, mas que nenhum fornecedor produzia. Com a o auxílio de dona Cleusa, em uma semana ele conseguiu entregar todo o pedido – e saiu da ‘aventura’ com um lucro de US$500. A história do fundador e CEO do Cacau Show não é mais uma novidade. Um empreendedor nato que hoje coordena 5 fábricas, 2020 lojas (30 próprias), 7500 funcionários e, ainda, uma fazenda de cacau em Linhares (Espírito Santo) e um faturamento anual de R$ 3 bilhões.
Em meio à crise, Costa apostou na construção de mais uma fábrica com 55 mil metros quadrados. Ele afirma que a iniciativa foi necessária para que a empresa esteja preparada para usufruir dos bons tempos que chegarão (em breve).
Presente em 700 municípios – distribuídos em todos os estados do Brasil – a Cacau Show é uma das marcas mais queridas pelo consumidor brasileiro. E a marca está sempre em expansão: acaba de lançar um linha de gelato e três novos modelos de microfranquias, além de surpreender os consumidores, constantemente, com novos produtos e coleções.
Os próximos passos? Organizar um novo “lote de mil lojas” e colocar os pés fora do Brasil – “Vamos fazer gente feliz em outros idiomas”, diverte-se Alexandre Costa.
“A paixão tem sido uma vantagem competitiva”
Você é um líder admirado pelos funcionário, colaboradores e franqueados. A que credita esse sucesso?
Alexandre Costa: Francamente eu acho que se trata de uma missão. Cada um nasce com um dom, um gift, um presente… e nós vamos ter que acertar essa conta um dia. O fato é que o sonho de um garoto que começou para mostrar muito para a família, depois para si mesmo, depois para a sociedade que era capaz, se transformou numa paixão, um produto delicioso, lúdico. Me apaixonei pelo setor, estudei, fui para a Bélgica.
O fato de eu não ter muita experiência mas ter muita paixão e ser uma pessoa muito aberta sobre vários tópicos, aberta para o novo, para estar próximo das pessoas e não ter essa coisa de não ter nenhum modelo têm sido uma vantagem competitiva. Também é uma oportunidade de melhoria.
Sempre fizemos as coisas, nesses 28 anos, com muito amor, com muita abertura, olhando nos olhos, entendendo o outro, o limite do outro, buscando liderar pelo exemplo. Eu estou aqui – enquanto muito empresários estão esquiando nas férias eu estou aqui na empresa. Essa paixão acaba inspirando as pessoas, elas percebem quando você é genuíno de verdade. Eu tenho ainda todos os defeitos de um ser humano, de alguém que ama muito o que faz. Eu devo ter muitas coisas que as pessoas não gostam mas tenho uma verdade: eu entrego a minha vida por isso.
“Não queremos zona de conforto, a gente entende que existe uma missão por trás desse negócios que é gerar desenvolvimento para o Brasil”
A “valorização das pessoas” é uma das missões da Cacau Show. Como surgiu esse conceito e como ele se aplica, na prática?
Alexandre Costa: Todas as segundas-feiras nós nos reunimos na “Segunda Show”. A ideia é conversarmos, tocarmos violão, nos aproximarmos. Também há outras ações, eu faço pessoalmente o almoço na sexta-feira santa, entre outras coisas. Eu gosto de estar presente no cotidiano da empresa e, também, gosto de ouvir o que as pessoas têm a dizer. Eu falo com as pessoas simples porque elas têm muitas soluções para os problemas. Não tem essa história de hierarquia… em algumas empresas jamais o presidente ouviria as recomendações de um empregado. A gente põe a mão na massa.
O que nós buscamos são pessoas com brilho no olhos, curtir o que está fazendo, curtir fazer parte dessa história, arregaçar as mangas e se propor a fazer. Um dos grandes ativos dessa casa são os funcionários. Nós valorizamos as pessoas incentivando-as a crescerem. O nossos Diretor de Supply limpava o chão, literalmente, 17 anos atrás, e hoje ele compra 400 milhões em suprimentos, é de minha inteira segurança e negocia melhor do que eu.
Você realizou o seu sonho e segue realizando o sonho de outras pessoas, que se tornam empreendedores com uma franquia. Como se sente a respeito?
Alexandre Costa: Eu me sinto com grande responsabilidade, porque hoje são quase 10 mil pessoas ligadas a esse negócio – entre os funcionários das fábricas, os franqueados, os funcionários das lojas. Sinto orgulho e responsabilidade, porque eu não posso perder o prumo, tenho que manter a direção, incentivar, colocar fogo na turma.
Nós fazemos tudo de forma correta, adequadas. Somos uma empresa completamente formal, somos auditados pela Ernest & Young. Fiz um conselho para que eles me desafiem, para que eles me ajudem.
Nós não queremos zona de conforto, a gente entende que existe uma missão por trás desse negócios que é gerar desenvolvimento para o Brasil, para essa cidade, para esse estado, pra esse país. Estamos trabalhando com essa missão de continuar sem pestanejar.
Como a crise afetou os seus negócios?
Alexandre Costa: Estamos vivendo um momento de crise no país mas nós tínhamos um dinheiro em caixa e decidimos investir na expansão na fábrica porque, quando o país retomar o crescimento, estaremos preparados para usufruir desse novo momento. Também lançamos uma linha de gelato, mais um produto para completar o mix das lojas. E abrimos três novos modelos de micro-franquias, para aquelas pessoas que pretendem empreender nesse momento e não têm tanto dinheiro para investir.
O empresário tem que ter consciência política porque gera emprego, renda, impostos. É claro que está havendo uma renovação política. Só o fato de vermos presos – sejam políticos, empresários, qualquer um que cometeu erros – e presos há mais de um ano, já aumenta a confiança de que as coisas irão melhorar, que quem faz o certo será reconhecido e quem faz errado será punido.
Há três anos, a empresa comprou uma fazenda de Cacau. É apenas mais um passo na verticalização da empresa?
Alexandre Costa: Sempre enxergamos a verticalização como fundamental para o crescimento da empresa principalmente para conhecer todas as etapas do negócio. Acredito que é fundamental entender o outro, entender o negócio do outro para aprender a tirar o melhor proveito e gerar uma relação de ganha-ganha. Com a fazenda, podemos compreender que existem técnicas de produção que asseguram maior produtividade e menor custo. Mas nós precisamos aprender as melhores técnicas para chegar no melhor resultado, é trabalhoso. Mas nós nunca fomos pelo caminho mais fácil.
Quais são os próximos passos da Cacau Show?
Alexandre Costa: Além da inauguração da nova fábrica e da continuidade do nosso projeto social, que já atende centenas de crianças, vamos planejar o próximo lote de 1000 lojas.
Também começamos a projetar um pezinho fora do Brasil. Vários empresários e empreendedores comentam que a Cacau Show é um benchmark, um modelo de negócios único e fizeram ofertas para levarmos a rede para fora do Brasil. Então isso está nos nossos planos: começamos a estudar a melhor maneira de internacionalizar a marca. Ainda não há nada concreto e nenhum contrato assinado, mas estamos estudando os mercados e as ações necessárias para concretizar essa internacionalização. Vamos fazer gente feliz em outros idiomas.
E você já pensou sobre a sucessão no comando da empresa?
Alexandre Costa: Sim, eu já estou com 45 anos. Até a implantação do conselho é uma maneira de eu preparar a minha sucessão. Eu continuarei presente, atuante, energizando todo mundo, apenas não serei mais o presidente. Acredito que esse processo leve mais uns três anos, pelo menos.

