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Banco Central inicia o ciclo de corte de juros com 0,25 p.p., mas o balanço de riscos deve fazê-lo intensificar o ritmo ao longo dos próximos meses
O Comitê de política monetária iniciou o ciclo de flexibilização da taxa de juros com um corte de 0,25 p.p. da Selic, em decisão unânime anunciada ontem. Essa decisão veio dentro do esperado pela maioria do mercado, mas ficou aquém da nossa expectativa de corte de 0,50 p.p.
Como apontado no comunicado do Copom, o balanço de riscos melhorou desde a última reunião e abriu espaço para o início da flexibilização monetária. Nesse balanço mais favorável, o Banco Central reconheceu um quadro de inflação mais benigno desde a última decisão, uma elevada ociosidade na economia e o avanço das reformas no país. Apesar disso, o ritmo e o tamanho total do ciclo de corte de juros ainda seguem incertos. Isso porque o Banco Central ainda se mostra insatisfeito com a velocidade de melhora dos preços sensíveis à política monetária e deseja observar consolidação das reformas que abram espaço para uma queda mais duradoura da inflação. Com isso, o BC avalia que “a magnitude da flexibilização monetária e uma possível intensificação do seu ritmo dependerão de evolução favorável de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e 2018”.
Em nosso julgamento, dois outros fatores explicam a opção pelo corte de 0,25 p.p. ao invés de 0,50 p.p.: (1) o Banco Central parece querer minimizar o risco de que a inflação fique acima de 4,5% em 2017, ao ainda enfatizar esse horizonte e (2) o Copom entende que os riscos para a atividade, de um corte moderado nos juros, são baixos, por avaliar que a frustração recente com o crescimento é transitória. Na nossa visão, inclusive, como a política econômica está sendo reorganizada (ajuste fiscal, ajustes microeconômicos, ambiente político favorável), é muita alta a chance de que a inflação responda efetivamente ao hiato da economia e desacelere de maneira importante no próximo ano. Além disso, identificamos baixos riscos de frustração com as reformas. Assim, mantemos nossa visão de que o ciclo total de ajuste levará a Selic a 10,25% ao final do ano que vem, apesar do discurso mais conservador por parte do Banco Central.
De fato, em função dos dados recentes de atividade, já temos um viés de baixa para nossa projeção de crescimento de 1,5% do PIB em 2017, eventualmente podendo levá-lo para abaixo de 1,0%, o que seria reforçado por uma eventual postura mais conservadora por parte do Banco Central.
A retomada se mostra mais lenta e fraca do que esperávamos, possivelmente pela desalavancagem ainda em curso das famílias e empresas, que mantém a taxa de desemprego alta e adia a retomada dos investimentos, fatores sensíveis à taxa de juros. Portanto, acreditamos que, apesar do tom mais conservador, as futuras decisões de política monetária seguirão muito dependentes da evolução da atividade econômica e da convergência da inflação para 4,5% em 2017, que, em nosso cenário, abrirá espaço para cortes mais intensos ao longo dos próximos meses.

