Depois de um início de ano com queda no crédito a pessoa jurídica e aumento das taxas de juros, 2010 começa a tomar a forma que se espera. Segundo dados do Banco Central, os empréstimos a empresas cresceram 1,3% em fevereiro, em relação ao mês anterior, a saldo de R$ 402,1 bilhões, com queda de 0,6 pontos percentuais das taxas médias, a 25,9%. O saldo total de crédito no País teve uma alta de 0,8%, a R$ 1,435 bilhão. Os empréstimos a pessoa física registraram alta de 1,9%, a R$ 331,7 bilhões. Além disso, as taxas médias de juros, que registraram uma alta de 0,8 ponto em janeiro, a 35,1%, voltaram a cair com a mesma variação percentual, a 34,3%.
Segundo o professor de Finanças da Brazilian Business School (BBS), Ricardo Torres, o impacto em janeiro foi devido principalmente à sazonalidade de janeiro, com acúmulo de impostos e compras do ano anterior. Ainda segundo ele, as taxas também subiram devido a uma expectativa de alta da taxa básica de juros na primeira reunião do Comitê de Política Econômica (Copom). “Em fevereiro, houve maior tranquilidade também nos mercados internacionais. Além disso, há uma grande montanha de recursos financeiros no mercado interno que os bancos devem repassar para alcançar maior rentabilidade”, afirma.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o juro médio e o spread bancário, a diferença entre quanto o banco paga para captar recursos e quanto cobra ao emprestá-los, cobrados de clientes pessoa física, atingiu em fevereiro os menores níveis da série histórica do Banco Central (BC), iniciada em 1994. Segundo o relatório da autoridade monetária, o juro médio pago em financiamentos tomados pelas famílias ficou em 41,9% ao ano, ante 43% de janeiro. No spread, a margem cobrada pelas instituições financeiras nos créditos às pessoas físicas caiu de 31,8 pontos em janeiro para 30,8 pontos no mês passado, também o menor nível da série.
Por causa da queda dos juros e do spread das famílias, o juro médio cobrado no crédito livre caiu em fevereiro, depois de duas altas mensais seguidas. A taxa média dessas operações recuou de 35,1% ao ano em janeiro, para 34,3% anuais em fevereiro. Nas operações a pessoas jurídicas, o juro médio cedeu 26,5%, para 25,9%, no mês passado, ante o mês anterior.
Lopes acrescentou que o mercado de crédito tem acompanhado dois movimentos opostos, que se anulam. O primeiro é a queda do spread causada pela redução da inadimplência. Ao mesmo tempo, há aumento do custo de captação. “Há um movimento de alta no custo de captação dos bancos. Isso tem compensado a redução dos spreads, o que traz a estabilidade dos juros”, explicou Lopes. Segundo o Banco Central, a taxa média de inadimplência nas operações de crédito livre – em que a taxa de juro é livremente pactuada – caiu de 5,5% em janeiro para 5,3% em fevereiro.
A redução dos atrasos foi liderada pelas operações das pessoas físicas, cuja taxa de inadimplência caiu de 7,6% para 7,2%. No crédito a empresas, o percentual das operações com atraso superior a 90 dias nos pagamentos recuou de 3,8% para 3,7%. O executivo não se comprometeu com a hipótese de queda dos juros nos próximos meses. Segundo ele, deve pesar a expectativa dos agentes econômicos para o aumento da taxa Selic em breve, fato que tem elevado o custo de captação das instituições financeiras.
Ainda de acordo com Lopes, as operações de crédito com recursos livres cresceram 1% no início de março, até o dia 10, lideradas pelos empréstimos às pessoas físicas, que cresceram 1,4% no período.

