De vendedor de coxinhas a Fera das Franquias

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De origem humilde, José Carlos Semenzato mergulhou no empreendedorismo e hoje comanda uma holding de franquias – a que ele chama de “aceleradora de negócios”

O paulista José Carlos Semenzato poderia ter ficado satisfeito com o império que construiu antes dos 30 anos de idade: a Microlins, rede de escolas de computação, que chegou a 700 franquias. Só de atingir esse sucesso, o jovem de família humilde de Lins, interior de São Paulo, já demonstraria uma trajetória e superações e conquistas. Entretanto, o desejo de sonhar alto e alçar voos ainda maiores culminou na criação da SMZTO Holding de Franquias Multissetoriais, hoje considerada a maior aceleradora de franquias do Brasil. O Grupo, sob o comando de Semenzato, fechou 2016 com mais de 700 unidades em operação das nove marcas que detém, anotando faturamento acima dos R$ 600 milhões.

Apaixonado por vinhos e por uma boa roda de viola, José Carlos Semenzato mantém um “cantinho” em Lins, embora viva em São Paulo. Gosta de viajar, especialmente por roteiros gastronômicos. Sócio de duas celebridades – Xuxa Meneghel e Gustavo Kuerten – acredita que a credibilidade dos sócios ajude a alavancar os negócios (além de garantir um garoto-propaganda com grande aceitação do público).

Mas a trajetória de Semenzato começou bem antes disso. Aos 13 anos, vendia os salgados e as coxinhas preparados pela mãe, dona Alzira. Com 16 anos, já era gerente de operação da copiadora onde passou a trabalhar. No ano seguinte, usou os conhecimentos obtidos no curso de computação para dar aulas – primeiro, numa escola de ensino Médio; depois, aulas particulares ministradas no computador emprestado pelo sogro. Assim, aos 23 anos inaugurou a primeira unidade da Microlins – negócio vendido depois por R$ 110 milhões ao Grupo Multi.

“Em 2008, estava em busca de um plano de saída, em busca de novos voos. Levei quase 10 anos para colocar a Microlins em pé e, mesmo sendo a empresa a que dediquei minha vida, sentia que precisava fechar um tempo para balanço. Por isso, a venda da minha empresa não foi o fim do meu sonho, muito pelo contrário: aquele empreendedor com uma trajetória sofrida estava recebendo uma oportunidade – um cheque para iniciar uma nova fase”, acredita.

A primeira aquisição a SMZTO Holding de Franquias Multissetoriais foi a L’Entrecôte de Paris, rede de franquias com a proposta de oferecer um prato único: o famoso entrecôte banhado em um molho secreto com 21 ingredientes e que leva 36 horas para ficar pronto, acompanhado de fritas e salada.

“Nossa proposta é oferecer experiência em alta gastronomia em 25 operações em todo o Brasil”, aponta Semenzato. Hoje, a SMZTO é sócia da apresentadora Xuxa Meneghel nas marcas Casa X e Espaçolaser e de Gustavo Kuerten na LifeUSA, além de somar outras cinco marcas em seu portfólio – entre elas, o Instituto Embelleze.

“O grande diferencial da holding é que nos tornamos sócios das marcas que aceleramos. Isso significa que acreditamos e apostamos nas nossas redes. Por isso, a SMZTO é a maior aceleradoras de franquias do Brasil e tem como missão oferecer ao mercado marcas sólidas para investimento e aos consumidores produtos e serviços de excelência”, ressalta.

Como o senhor resume a sua trajetória?

Esse é o meu maior orgulho, contar essa história sempre. Com 13 anos eu vendia coxinhas na periferia de Lins e, só anos depois, eu fui me entender como o maior vendedor de salgadinhos que a cidade já teve. Aos 23 anos eu entendi, realmente, a arte de vender – quando se é pequeno é difícil perceber suas habilidades e talentos, às vezes passamos uma vida inteira sem desenvolvê-los. Sem dúvida, encontrei o meu propósito bem cedo. Aos 15 anos fui fazer um curso de computação que culminou numa carreira na área de informática. Eu poderia ter passado a vida dentro de uma sala, dentro de um CPD (Centro de Processamento de Dados).

Provavelmente seria uma vida muito boa e eu ganharia dinheiro, mas não estaria tão realizado como estou por ser um empreendedor. Infelizmente não é todos mundo que tem o prazer de se encontrar naquilo que o faz feliz.

Eu me redescobri como empreendedor, como vendedor e como empresário.

Essas coisas a gente não consegue explicar: qual é a sua maior aptidão? Para que você veio ao mundo? Quais são os seus melhores dons? E acredito que eu tive a sorte de me encontrar.

Quanto dessa veia "vendedora" mantém hoje?

Hoje eu estou com as habilidades mais desenvolvidas para o lado da gestão. Mas o grande empreendedor não perde nunca esse talento natural para as vendas, não perde a criatividade. Ainda mantenho a habilidade natural de surgir com boas ideias – seja nas reuniões do conselho ou na avaliação de algum projeto.

O empreendedor tem de fato a visão aguçada do futuro. Acredito que foi isso que aconteceu na minha vida: até 1991 eu era programador e analista de sistemas, era professor de computação no segundo grau; até que despertei para a vida empreendedora.

De onde veio o start para ser empreendedor?

O start veio muito da inspiração dos cursos de final de semana que eu fazia, dessa experiência na sala de aula, do desenvolvimento de sistemas, quando eu percebi que havia uma lacuna na área de computação.

E como uma escola de computação virou uma holding de franquias?

Passaram-se 18 anos. Nesse interim, montei uma escola de beleza também, o Instituto Embelleze. Em 2010 entendi que era o momento de “fechar para balanço”, porque recebi a proposta de vender aa Microlins. Resolvi levar a minha expertise e a experiência no setor de educação para outras áreas, como alimentação, saúde, estética.

Assim, nasceu a Holding SMZTO, hoje com nove marcas. Algumas delas já estão maduras enquanto outros estão em processo de lançamento ou expansão. Continuo bastante atento às novidades do mercado, buscando alternativas para acelerar o mercado de franquias.

Nesses anos de holding ficou claro que atuamos como uma aceleradora de negócios que já tenham sucesso, mesmo que a marca tenha apenas uma unidade.

O exemplo claro disso é o L’Entrecôte de Paris: começamos com uma unidade pequena em 2011; em 2012, iniciamos a expansão por franquias e, hoje, são 22 restaurantes em todo o Brasil. com muito sucesso. Outra experiência bastante interessante é com a OdontoCompany. Era uma clínica, uma única unidade, que funcionava em Ribeirão Preto há mais de 20 anos. Eu entrei na sociedade em 2011 e, hoje, são mais 320 franquias licenciadas com mais de 220 clínicas em operação em todo o país.

Então, esse tem se tornado para o modelo mais adequado de crescimento.

Com a Espaçolaser aconteceu um processo semelhante: entramos na sociedade em junho de 2015 e, em um ano e meio, já são 215 clínicas franqueadas – 135 delas em operação. Isso mostra que é preferível usarmos o nosso know how para acelerarmos um negócio já consagrado, mesmo que ele tenha apenas uma unidade/operação, e iniciarmos a expansão por meio de franquias, do que começarmos um negócio do zero.

Qual é o perfil ideal tanto para sócios quanto para franqueados?

Estamos muito atentos a alguns setores que têm o know how grande. O setor de beleza está bastante próspero. O setor de educação tem uma veia de crescimento muito forte. A área de bem estar e saúde é outra que estamos bastante atentos. Nós não desprezamos nenhum setor: analisamos todas as oportunidades do mercado.

O que vemos que tem espaço para expandir no Brasil nós tentamos trazer para a nossa holding de negócios. Sobre os franqueados, o importante é que tenham afinidade com o setor no qual vão investir; que tenham disponibilidade para operar o negócio (são poucos os segmentos do franchising que podem ser tocados pelo gerente, por exemplo), então damos preferência à quem pode estar à frente da operação.

E, por último, que ele tenha o capital necessário para implantar aquele projeto.

Por que optou em se associar a celebridades?

A sociedade com celebridades é muito importante, embora não seja nada novo. A novidade é que, enquanto o mercado costuma contratar uma celebridade como garoto-propaganda, a minha ideia foi a de trazê-las como sócios para agregar valor.

A marca já nasce muito forte porque essas celebridades despejam muita credibilidade. Quando essas pessoas realmente apostam com você em um setor, em um negócio, é porque elas acreditam naquilo e têm um DNA empreendedor.

Qual é a sua perspectiva para o setor de franquias em 2017 e nos próximos anos?

Acredito que continuará crescendo acima dos outros setores como foi nos últimos 10 anos – chegou a crescer 2 dígitos por muitos anos – e acima do PIB, com certeza. Porém, há que se considerar a consolidação de setores – sempre haverá a entrada de novas empresas mas não no mesmo ritmo observado nos últimos cinco anos.

A tendência é os grupos consolidados liderarem e criarem novas marcas – como nós criamos a Oralsystem ou o Grupo O Boticário que lançou novas marcas em busca de outros canais de vendas e de novos públicos.

Outra tendência natural é o amadurecimento e consolidação do setor, excluindo a atuação de improviso e de aventureiros. Só permanecerão as marcas que têm tradição e profissionalismo.

Quais são as suas principais características como gestor?

Considero-me descentralizador, um líder inspirador, bastante exigente no dia a dia, mas delego muito, dou muita autonomia e alçada para sócios e gerentes para que possam desenvolver suas habilidades. Estimulo a criatividade dou muitas oportunidades para que surjam talentos dentro da própria organização, acho que isso é fundamental. Fomentar e estimular a criação de novos talentos.

A criatividade é fundamental, assim como você praticar os insights, principalmente sob a ótica do consumidor. Colocar-se no lugar dele e entender se o produto ou serviço que você está oferecendo atende as necessidades.

Independentemente da área de atuação, o valor da sua companhia vem do impacto que você gera no consumidor. Se for positivo, o cliente fica feliz e indica a sua empresa para outros clientes. Isso gera um círculo virtuoso de muito sucesso para o seu negócio.

Quais foram os principais desafios e as maiores conquistas da sua trajetória empreendedora?

O maior legado é que, ao longo desses 25 anos, eu já ajudei a mudar a vida de dois mil franqueados. Pessoas que investiram em marcas do nosso grupo e foram impactadas de alguma forma. Esse legado de gerar esse impacto na vida das pessoas é um motivo de alegria.

Frustrações eu não tenho não. Costumo dizer que, como empreendedor no Brasil, faria tudo de novo.

Quer saber mais sobre a trajetória de Semenzato e sobre a Holding de Franquis SMZTO? Participe do Brasilshop – Congresso de Varejo, realizado em 03 de agosto, no WTC.