25 VERBOS PARA CONSTRUIR A SUA VIDA

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Fundador do Habib´s lança livro com dicas e lições para ter sucesso na vida profissional e pessoal

Foram três anos de trabalho dedicado e reflexivo realizado nos momentos “de descanso” até dar forma ao livro “25 verbos para construir a sua vida”. No volume, o fundador do Habib's, Antonio Alberto Saraiva fala sobre as principais experiências vivenciadas nos seus 60 e poucos anos, muitas delas relacionadas com o desejo de empreender – e deixar um legado realmente importante.

O livro traz verbos como “Aceitar”, que abre o manuscrito, “Crer”, “Sonhar”, “Criar”, passando por outros como “Sorrir”, “Comemorar” e “Surpreender”, entre outros, mas o mais longo é o “Persistir”. Não que seja o mais importante, mas persistir pressupõe que algo deu errado e que você teve que continuar tentando.

E disso, o Doutor Saraiva entende bem. Médico de formação, esse português abriu alguns negócios antes de encontrar o seu caminho. Mesmo assim, manteve o foco e transformou uma “lanchonete” de 20 funcionários em uma rede que, hoje, contabiliza 22 mil colaboradores e mais de 500 lojas instaladas em 20 estados brasileiros.

Depois do lançamento do livro – com direito a “noite de autógrafos”– o foco volta-se, novamente, para os negócios, com desejo de expansão internacional.

Nessa entrevista Saraiva fala sobre reflexão, processo criativo, política, motivação e responsabilidade social.

Como surgiu a ideia do livro? E como foi esse processo criativo?

Alberto Saraiva: Sempre procurei levar conhecimento para as pessoas, motivá-las, fazer elas crerem em si mesmas, dar um caminho para as pessoas terem alternativas na vida. Faço isso desde que aprendi alguma coisa na vida. Acredito que o livro é um caminho. E a minha experiência pessoal, familiar (tenho 5 filhos), de ter tido uma origem humilde (meus pais eram imigrantes) e a minha experiência empresarial – do pouco fazer coisas maiores – me trouxe muito conhecimento e experiência de vida… uma visão quase de 360 graus da vida pessoal, empresarial. A minha maneira de agradecer à vida foi escrevendo. Quero que as pessoas que lerem o livro vejam que há alternativas, que cada um creia em si mesmo. Esse é o intuito: trazer experiência para as pessoas.

O processo de escrita foi bastante longo, demorou três anos, porque escrevi no finais de semana, em viagens, no avião, nos momentos de folga – porque no horário normal eu tenho muito trabalho. Foi um processo longo e inspirador pois eu também me descobri nesse livro. Muitas coisas que eu escrevi eu me indaguei a respeito, de onde veio esse processo criativo. Você descobre que é muito mais completo do que percebe na correria do dia a dia, em que não se permite um momento de reflexão.

Escolhemos 25 verbos – eu tive a ajuda da minha filha, que trabalha comigo há quatro anos – que têm a ver com a minha vida. E a cada verbo eu procurei dizer algo importante sobre a nossa vida pessoal. É um livro afetivo e racional: afetivo por abordar o lado pessoal e o racional ao abordar o lado empresarial, o que conquistamos. Tem alguns segredos, algumas experiências diferenciadas.

Nada acontece sem ação, sem você colocar em ação aquilo que você pensa, idealiza, sonha, acredita. Temos que acordar e saber que sempre temos alguma tarefa a executar – e ela depende de como você se comporta: se é ativo, dinâmico, crente em si próprio e em Deus, se sonha e persiste. Esses são os nossos verbos. São de realização, de empreendedorismo. Nada acontece sem “ação”, a vida não permite comodidade, preguiça, abandono. Precisamos estar atentos.

Quais são as suas principais referências? Onde busca inspiração para o dia a dia?

Alberto Saraiva: Quando eu era jovem, li dois livros que mudaram a minha vida: o do Lair Ribeiro, “O Sucesso não Ocorre por Acaso”; e do Og Mandino, “O Maior Vendedor do Mundo”. Eles me despertaram que, se tivermos uma formação interna, pessoal, conseguimos melhor as coisas. O sucesso é relacionado ao tipo de negócio que nós tocamos mas, antes disso, tem a forma como você se vê, se crê em si próprio. Eu diria que as minhas inspirações profissionais foram dentro do ramo de atividade que eu tive.

Uma história do livro fala do Ray Kroq: ele conseguiu transformar um bolinho de carne achatada dentro de um pãozinho na 4ª maior marca do mundo. E eu pensava: “preciso encontrar o meu bolinho de carne, o produto que eu consiga dar o sucesso dele e outro além”.

Durante muito tempo eu procurei: achei o pastel e montei a casa do pastel; aprendi uma receita de pizza e montei a casa da pizza; aprendi uma massa de nhoque, e montei a casa do nhoque no centro da cidade. Sempre estava procurando o meu produto até que, num encontro com um senhor de 70 anos de idade, senhor Paulo Abud, eu encontrei o meu produto! Ele veio me pedir emprego e disse que sabia fazer homus, tabule, quibe, kafta e esfiha.

Esfiha era um produto que eu estava procurando e pesquisando e, quando ele preparou para mim, eu vi que tinha encontrado o meu ‘bolinho de carne’. O produto tinha essa característica: massa feita na hora, carne super bem temperada e gostosa, assada no forno, produto nutritivo e saboroso.

Depois de todos os negócios que eu já tinha montado, percebi que tinha encontrado o produto que faria diferença na minha vida. E eu acreditei nesse produto e essa história de que desejar, procurar, me fez encontrar esse produto e deu origem ao Habib´s. A primeira loja tinha 20 funcionários – agora são 22 mil! São 430 lojas (entre próprias e franquias) – se somarmos com o Ragazzo são mais de 500.

E tudo começou com essa conversa com o senhor de 70 anos. Sempre dou muita importância às pessoas de mais idade, pelo conhecimento e experiência que eles trazem. Hoje atendemos 200 milhões de clientes por ano e vendemos quase 600 milhões de Bib´sfihas. Isso traduz bem a história de a semente se transformar em uma árvore grandiosa. Não me tornei o Ray Kroq mas temos essa rede, que gera milhares de empregos.

O nosso mundo é do tamanho que idealizamos.

Parte do valor arrecadado será transformado em doação para projetos sociais. Como tomou essa decisão?

Alberto Saraiva: Nós temos o projeto Ciranda, pelo qual já passaram duas gerações de crianças – atendemos dos 2 aos 17 anos. É um projeto na Vila Andrade, na favela Paraisópolis, do qual temos orgulho porque ele ajuda às crianças diretamente. Não tenho a finalidade de ter ganhos financeiros com o livro então toda parte que cabe ao autor eu repassarei para o projeto. Tento sempre ter o espírito de colaboração.

Além do Ciranda, eu sou irmão colaborador da Santa Casa. Alguns anos atrás havia uma fila de crianças estrábicas que demorariam cinco anos para ser atendidas. Fizemos um projeto lá e conseguimos atender todos em 90 dias em um mutirão. São projetos que nos realizam e, logicamente, eu não precisaria dos resultados do livro para colocá-los em prática. Mas também é uma forma de associar um lado humano dentro do projeto desse livro.

Tem planos para os próximos livros?

Alberto Saraiva: A ideia não é escrever mais livros. Esse já me trouxe muito prazer, mas me ocupou demais – os filhos e a esposa reclamaram atenção. E, talvez, eu não tenha tanto conhecimento para escrever outros livros. O primeiro exemplar eu entreguei para a minha filha Bruna e disse a ela que essa pode ser a principal herança que eu vou deixar, para ela unir esse meu conhecimento com o que ela própria vai adquirir e, quem sabe, também deixar para a pessoa que ela mais vai amar. Escrever um livro te traz a condição para essas reflexões.

Tanto o Habib´s quanto o senhor estiveram em bastante evidência no último ano. A que o senhor atribui isso?

Alberto Saraiva: O país passou por uma fase e uma situação que fazia tempo que não passávamos, atípica. Resolvemos adotar um posicionamento sobre o que estava ocorrendo – não estava num caminho bom. A classe política e as lideranças dividiram o país, a população, classificando-os (verdes e amarelos, vermelhos, coxinhas, mortadela).

Os brasileiros estavam sendo conduzidos por essa classe política, que tinha os seus interesses, queriam se salvar. Assumimos o posicionamento de que somos brasileiros, temos que ser patriotas e unidos – e não pagar com a desunião. Nos posicionamos com o slogan “Fome de Mudança”, que não era partidário mas, sim, patriótico. Nossa forma de dizer que não concordávamos com essas divisões. Nos posicionamos em favor do país, da pátria e da população. Esse posicionamento veio com duas campanhas publicitárias que traziam esse sentido de união. O que vimos é, que agora, temos uma esperança. Não importa qual partido seja, mas é importante ver que a população não está mais dividida.

O senhor fez uma apresentação apoteótica e motivacional durante o 1º Congresso Nacional de Varejo, em Punta del Este. O que mudou desde então?

Alberto Saraiva: Naquela época, a esperança e a crença eram menores, estávamos caminhando para uma situação anômala. Hoje temos uma esperança maior, não só associada à classe política, mas da própria população. O que mudou foi sair de uma situação pessimista para uma otimista. Óbvio que ainda não está bom, mas ainda sofre com os reflexos do passados, teremos um período de recuperação. A classe empresarial e o comércio está pagando por tudo o que aconteceu.

Nunca tivemos tantos imóveis para locar, tantos negócios fechados, tantos shoppings com tapumes. Isso é reflexo do passado recente. Mas o nosso país tem quase R$ 1 trilhão de faturamento. E o país, como qualquer empresa, se houver mudança de organização, mudanças estruturais, de administração, tem como usar esse PIB para mudar rapidamente.

O senhor tem alguma pretensão política?

Alberto Saraiva: Não, não tenho. Mas tenho a pretensão de que as coisas corram de uma forma normal. Não sou partidário, só tomei uma participação com o “Fome de Mudança” porque vimos que do jeito que estava não estava bom. Minha pretensão agora é que o Habib´s cresça mais, que o projeto do Ragazzo Express vingue… também temos algumas ideias de internacionalização. Estive agora nos EUA, junto com o nosso diretor de Expansão e vimos quase 70 pontos comerciais, temos pontos para isso de expansão com máster franqueado com participação ativa nossa. Esses são os meus sonhos empresariais. Segurar o balão lá em cima muitas vezes é mais difícil do que fazê-lo subir.

Tem como dissociar o “Alberto” pessoa do empresário fundador do Habib´s?

Alberto Saraiva: O processo de escrita do livro me ajudou muito porque, não sei se tem a ver com o meu signo (gêmeos é emocional e racional). Descobri que as duas coisas fazem parte da minha vida e que eles se completam. Na vida empresarial vale muito as coisas que você tem como ser humano. A grande característica desse livro não são apenas as dicas empresariais, mas a análise de como nós, seres humanos, nos portamos e nos dividimos – vida pessoal. No livro estão os meus segredos pessoais e empresariais. Muitas vezes eles se tornam segredos por você não ter feito uma reflexão sobre eles.

Eu gosto de praticar golfe, jogar pôquer, gosto de viajar… mas não tenho isso como prioridade. Também não carrego a história de “aproveitar o máximo” e deixar a empresa de lado. Eu me realizo e aproveito ao máximo convivendo com a empresa, com a família, com os filhos. A minha realização pessoal é a realização da minha família, dos meus filhos, da minha empresa, das nossas conquistas e não propriamente de algo que eu idealize para o Alberto Saraiva.