Surpresa negativa com o resultado do varejo restrito em dezembro sugere alguma acomodação do consumo

Contrariando as expectativas mais positivas para o consumo das famílias no último trimestre do ano passado, o resultado das vendas no varejo de dezembro, conhecido hoje, poderá levar a alguma revisão baixista nas projeções do PIB do período. Entendemos, contudo, que parte deste resultado deve ser lida como um ajuste e não como uma reversão de tendência para o comércio varejista, levando em conta a volatilidade da série. Para este ano, acreditamos em moderação no ritmo de crescimento do varejo ampliado, que deverá avançar 5,7% após expansão de 8,0% verificada em 2012, tendo em vista o menor reajuste do salário mínimo ocorrido em 2013 e o fim, mesmo que escalonado, das desonerações incidentes sobre veículos, móveis e linha branca.

O volume de vendas no varejo restrito (que exclui as atividades de veículos e motos, partes e peças e de material de construção) mostrou retração de 0,5% na margem em dezembro, já descontados os efeitos sazonais, explicada pelos segmentos de supermercados e artigos de uso pessoal e doméstico. Trata-se da primeira variação negativa após seis meses seguidos de expansão, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada hoje pelo IBGE. O resultado veio abaixo das nossas expectativas e das do mercado (0,9%, segundo levantamento da Agência Estado). Na comparação com o mesmo período de 2011, o indicador avançou 5,0%. O índice ampliado (que considera todas as atividades) apresentou expansão de 1,3% na margem e 5,0% na comparação interanual. Com isso, o varejo encerrou o ano com crescimento de 8,4% no conceito restrito e de 8,0% no ampliado.

Em 2012, os destaques positivos de crescimento concentraram-se no comércio de móveis e eletrodomésticos e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, que acumularam ganhos respectivos de 12,3% e 10,2% em relação a 2011. Por outro lado, tecidos, vestuário e calçados e livros, jornais, revistas e papelaria mostraram as taxas de expansão mais moderadas, de 3,4% e 5,4%, nesta ordem. Também, vale destacar as altas interanuais respectivas de 7,3% e 7,9% no comércio de veículos e motos, partes e peças e material de construção no ano passado. Além disso, o segmento de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo – crescendo 8,4% – foi o principal responsável pela alta do varejo no ano passado.

A despeito da surpresa negativa com o resultado do último mês do ano passado, é importante chamar atenção para o desempenho agregado do consumo das famílias que, mesmo estabilizando-se em patamares mais moderados, segue favorável. Isso, por sua vez, é garantido pelas perspectivas positivas de renda e do mercado de trabalho, o que não deve se alterar neste ano, ainda mais diante da retomada esperada para a economia brasileira. Mesmo assim, notamos que a maior participação de serviços na cesta de consumo dos brasileiros, que aumenta a concorrência com os bens, e as medidas de estímulo, impactando os preços, também têm influenciado de forma importante a decisão de consumo das famílias, o que sustenta nossas expectativas de leve moderação do varejo daqui para frente.