Buscando uma visão serena sobre os riscos inflacionários no Brasil em 2013

Na semana passada, a análise do IPCA de janeiro mostrou que a inflação corrente é de fato algo que preocupa e está bastante acima do que se esperava pouco tempo atrás. É bem verdade, que o IPCA do mês de passado foi impactado pela sazonalidade adversa dos preços dos alimentos, retorno parcial do IPI de automóveis, além do reajuste dos preços de cigarros. No entanto, contou com importante contribuição benigna da queda dos preços de energia (que será ainda maior no mês de fevereiro). De forma que fica difícil eleger um “culpado” para inflação corrente mais elevada quando se observa que a tendência subjacente da inflação explicitada em seus núcleos continuou deteriorando. Quando se olha para o histórico recente das projeções de inflação tanto do mercado (Focus) quanto do Banco central (Relatório de Inflação) verificamos que os erros de projeção no segundo semestre de 2012 e possivelmente no primeiro trimestre de 2013 foram (serão) significativos.

A aceleração da inflação no segundo semestre de 2012 é explicada pela alta dos preços livres que saiu de 5,3% no acumulado em 12 meses até jun/12 para 6,5% em dez/12 na mesma métrica. Interessante observar que, os “bens comercializáveis” em especial tiveram um impacto significativo para essa aceleração, pois saíram de 3% em jun/12 para 4,5% em dez/12 no acumulado em 12 meses, sendo que a média semestral anualizada saiu de 0,95% no primeiro semestre para 8,2% no segundo semestre de 2012. Altas bastante significativas que refletem de um lado a depreciação cambial que impactou a inflação de bens duráveis e semiduráveis e o choque de preços agrícolas que impactou a inflação de alimentos.

Olhando, portanto, para esses dois componentes da surpresa do segundo semestre de 2012, as perspectivas de inflação para 2013 seriam, em tese, mais benignas, pois o câmbio ao invés de contribuir negativamente, poderá até gerar pequena contribuição favorável dada a ligeira apreciação recente. E do ponto de vista da inflação de alimentos, as últimas informações também são positivas (relatório da USDA e da Conab), pois reforçam a tendência de queda de preços agrícolas no exterior (boa safra brasileira). Em suma, tudo indica que a inflação de alimentos em 2013 mostrará uma importante desaceleração.

Quais, então, são os riscos para a inflação de 2013? Nesse sentido, vale a pena refletirmos sobre o resultado de janeiro, pois sem dúvida que esses riscos ficaram maiores após essa divulgação. O primeiro deles é a inflação de bens duráveis. É bem verdade que a ligeira apreciação cambial recente poderia colaborar, no mínimo, para a estabilidade de preços desses bens, no entanto, em janeiro esses bens mostraram altas significativas e no caso da linha branca e mobiliário, as altas anteciparam a retirada do desconto de IPI que vigorou até 31 de janeiro. Na primeira semana de divulgação do IPC-Fipe de fevereiro os equipamentos de domicílio (que inclui eletroeletrônicos e móveis) aceleraram para 0,95% ante 0,55% da semana anterior.