A classe média que todo shopping quer

O poder aquisitivo da classe C nordestina aumentou. Para se ter uma ideia, esse segmento, que corresponde a 45% da população da região, deve gastar, até o fim deste ano, R$ 198 bilhões com o consumo de produtos e serviços — pouco mais de 40% da despesa de toda a população do Nordeste, estimada R$ 483 bilhões. Os dados são da pesquisa “Vozes da Classe Média”, realizada recentemente pelo instituto Data Popular, e justificam a forte atração de shopping centers para a região.

Com a estabilização da economia brasileira frente ao cenário internacional, os empresários do setor alargaram os horizontes e passaram a investir na abertura de shoppings, inclusive, nas cidades interioranas. Para o presidente e sócio da consultoria 5R Shopping Centers, Carlos Felipe Fulcher, um dos fatores decisivos para o aumento do poder aquisitivo da classe média foi o alcance da estabilidade econômica, que possibilitou aos empreendedores dos shoppings analisar mais facilmente as reais demandas das famílias.

“O aumento da renda e a diminuição dos impostos justificou a aderência desse público aos shoppings, também pelo fato de ser um espaço mais agradável do que os grandes centros das cidades – que, por anos, foram o principal ambiente de compras da classe C. Eles também oferecem mais conforto”, explica Fulcher. Ainda segundo ele, a comodidade do estacionamento é outro fator que passou a ser considerado por esses consumidores, em razão da conquista do maior acesso ao carro.

Dos 37 milhões de brasileiros que entraram para a classe média nos últimos dez anos, 36% são nordestinos. Esses números fundamentam os investimentos realizados para a abertura de centros de compra nas mais variadas áreas da região. Desde a margem da BR-101, onde estará, ao final de 2015, o Shopping Apipucos – que deve custar ao grupo pernambucano Souza Leão R$ 300 milhões – até mesmo ao Vale do São Francisco, que vai ganhar o Petrolina Park Shopping em abril de 2014. O empreendimento é- fruto de um investimento de R$ 100 milhões por parte da Plus Investimentos e da Class Investimentos.

Enquanto as demais investidas nos espaços interioranos não tomam forma, a capital pernambucana protagonizou a reação da classe C à abertura do RioMar Shopping, que mobilizou um grande contingente do segmento médio recifense.

No agreste do estado, o North Shopping Caruaru absorveu o favorável quadro econômico à classe média e tirou desse segmento a obrigação de se deslocar à capital para fazer compras. “O poder de compra da população do Agreste mudou. Hoje é, sem dúvida, uma das que mais crescem no estado. O município evoluiu acima da média nacional, ocupando o quinto lugar no ranking estadual. Excluindo as cidades da Região Metropolitana, Caruaru possui a maior média de consumo per capita”, diz o gerente de marketing do North Shopping, Gustavo Penteado.

Com a ascensão de 123% da classe média no Nordeste nos últimos dez anos – número que superou a média de 57% em todo o Brasil -, há a preocupação dos lojistas em fazer com que essa parcela da população se habitue aos shoppings. Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife), Eduardo Catão, os centros de compra ainda tentam conquistar e atrair a classe média, que estava habituada a se dirigir ao Centro.

Fidelizar o novo público também é um desafio. Para Catão, ocupar as prateleiras com produtos que o consumidor realmente precisa é uma das maneiras de mantê-lo próximo às lojas. “A fidelização do cliente é definida principalmente pelo tratamento que ele recebe. O comportamento do vendedor em tratá-lo igualmente a outro cliente com maior poder aquisitivo contribui para a fidelização”, ensina.