Real já é a segunda moeda mais negociada no mercado futuro

Levantamento do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) mostra que a moeda brasileira, o real, já é a segunda moeda mais negociada do mundo no mercado futuro e de opções, atrás apenas do dólar e à frente do euro.

O BIS afirmou, em relatório, que o volume de posições em aberto em contratos futuros e de opções da moeda brasileira subiu 41% nos primeiros três meses de 2010 e chegou à cifra de US$ 140 bilhões de dólares. “A importância da moeda brasileira no segmento de moedas do mercado de futuros e opções se deve ao fato de haver comparativamente poucos negócios no mercado de balcão”, informou o banco.

O banco destaca que a moeda brasileira é atraente para investidores graças à força da economia do País, à sua alta taxa de juros, a Selic – hoje a 10,25%- e ao seu status de moeda atrelada a commodities. “Contudo, o real continua sendo uma moeda vulnerável em tempos de grande aversão a risco nos mercados financeiros”, afirmou a nota.

Na visão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, vários fatores fazem com que a moeda ganhe status internacional. “A economia brasileira está mais líquida, os títulos brasileiros estão mais líquidos; a moeda inspira mais confiança e também tem outra razão: a rentabilidade do nosso mercado futuro é maior, devido ao fato de a taxa de juros ser maior”, ressaltou, durante apresentação ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Para o ministro, o fato de o real ter ultrapassado moedas como o euro e o iene nas negociações futuras é bom para o País. “Podemos dizer que a nossa moeda é uma moeda de curso internacional, tem segurança, garantia e atratividade.”

No campo do comércio exterior, Mantega rebateu as críticas de que o Brasil está dando mais ênfase a produtos primários do que a manufaturados. “Hoje, o que está dando mais dinheiro para o Brasil é o minério de ferro, não o setor siderúrgico”, afirmou. Ainda em relação às commodities, o ministro da Fazenda destacou que faltará alimento no mundo nos próximos anos em razão da demanda elevada. “E qual será o país que atenderá a esse aumento da demanda? O Brasil”, enfatizou o ministro da Fazenda.

O gerente de Operações da Confidence Câmbio, Felipe Pellegrini, diz que o fato de o real ser a segunda moeda mais negociada no mundo precisa ser analisado com cuidado. “A notícia em si não impacta o mercado, se não o diagnóstico seria uma grande baixa da moeda norte-americana.” Ele explica que a maioria dos contratos futuros é de operações de curto prazo e que os investidores estrangeiros buscam as altas taxas de juros praticadas no Brasil. “Pode ser bom por atrair o câmbio-turismo. Fica fácil viajar para fora. Contudo, o lado ruim da história é que o dinheiro fica pouco no País e não faz investimentos.” Para ele, o movimento é nitidamente especulativo, sem envolver investimentos diretos.

Quando questionado se concorda com os analistas que preveem queda da taxa Selic até 2012, Pellegrini ressaltou que taxas de juros altas atraem o investidor estrangeiro. “O mercado sente que o movimento será de altas taxas de juros, apesar de um ano eleitoral. No longo prazo, deverá diminuir, mas não dá para afirmar.” Para ele, o Brasil poderia praticar taxas de juros menores. Uma das soluções, segundo ele, seria o incentivo à produção. “Ainda que tenhamos pressões inflacionárias, há outras maneiras de segurar a inflação sem elevar a Selic. Hoje, a procura é maior que a oferta. A solução é frear com taxas maiores, ou incentivar a oferta?”

Pellegrini enxerga que o fato de um órgão internacional, o BIS, ter emitido o relatório o impacto no exterior pode ser maior. “Fica a propaganda para o Brasil, pois a notícia será lida no mundo todo. Para nós, o melhor cenário seria se os grandes investidores colocassem o dinheiro no longo prazo e incentivassem a produção nacional”, reflete o executivo.