56
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS
EM CRIAR E VENDER PARA HOMENS
E MULHERES?
TITO BESSA JR. :
A diferença está no conceito e na
forma de apresentar o produto. O homem precisa de uma
curadoria da marca: além de oferecermos o produto que
ele quer, temos que mostrar como usa e como ele vai ser
percebido usando tng. Quando criamos e vendemos para
mulher, temos que mostrar como ela vai se sentir usando a
nossa marca e, depois, como ela será percebida pelos outros.
Vendemos, além de roupas, uma experiência para elas.
A TNG. SÓ ENTROU NO “CIRCUITO
FASHION” DEPOIS DE 20 ANOS. QUANDO
SURGIU A NECESSIDADE DE DESFILAR NA
FASHION RIO? E QUAIS MUDANÇAS ESSA
ESTRATÉGIA TROUXE PARA A MARCA?
TITO BESSA JR. :
Era preciso conciliar crescimento e
prestígio, arranjando alguma forma de devolver à marca
seu status de “objeto de desejo”. Então avaliamos que a
melhor forma de fazer isso era ingressar no restrito circuito
dos desfiles de moda. Em 2002, nos aproximamos dos
organizadores do Fashion Rio e conseguimos uma vaga
no evento. Para nós foi um divisor de águas, ali pudemos
provar que tínhamos competência para apresentar uma
coleção conceitual que transmitisse o que estava nas lojas.
Conseguimos concretizar nosso desejo de oferecer moda
acessível para todos.
A TNG. É UMA MARCA ACESSÍVEL -
TANTO EM TERMOS DE MODA COMO
NO QUESITO FINANCEIRO. COMO OPTOU
POR SEGUIR ESSE CAMINHO?
TITO BESSA JR. :
Eu acredito na moda inclusiva: se
uma pessoa quer consumir moda, o quesito financeiro não
deve ser uma barreira. Por isso nós conseguimos entregar
tendências que estão vigentes no mundo todo a um preço
justo. Nós saímos do comum, como diz nosso slogan,
porque não excluímos.
DESDE 2012, A TNG. ESTÁ INVESTINDO EM
SUSTENTABILIDADE. POR QUE TOMARAM
ESSE CAMINHO? QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS
AÇÕES NESSE SENTIDO?
TITO BESSA JR. :
Esta é uma preocupação pessoal minha
que trago para minha empresa. Já trabalhamos há algum tempo
e estamos cada vez mais tentando ampliar o volume em nossa
coleção. Nós precisamos, ainda, adequar as diversas variáveis
que isto implica, como preço, limites de desenvolvimento,
produção, etc. Hoje esperamos um crescimento significativo
destas parcerias ao longo dos anos.
Além da busca por matérias-primas sustentáveis para
o desenvolvimento das coleções, investimos no mesmo
conceito nas lojas. O maior exemplo são as sacolas com o
selo de garantia FSC, de que a matéria-prima do produto tem
origem nas florestas manejadas. A produção de um ano dessas
sacolas economiza energia elétrica equivalente ao consumo
de 220 famílias, economia de água para suprir o consumo
anual de 580 pessoas, evita o corte de 1.800 novas árvores
e retira rejeitos sólidos de lixões e aterros. A arquitetura
das lojas também procura seguir os conceitos sustentáveis
usando materiais reciclados, como os pallets, que servem
como expositores, além de servirem como mesa nos nosso
escritório da matriz.
EM QUASE 30 ANOS DE HISTÓRIA,
A TNG. JÁ PASSOU POR ALTOS E BAIXOS.
QUAIS FORAM OS MOMENTOS MAIS
IMPORTANTES DESSA TRAJETÓRIA?
E QUAIS LIÇÕES VOCÊ TIROU DOS
EQUÍVOCOS?
TITO BESSA JR. :
No segundo ano de desfile, tivemos
um grande escorregão, queríamos mostrar que podíamos
fazer uma coleção conceitual, menos comercial, com
o objetivo de ganhar mais credibilidade dos críticos.
Apresentamos na passarela algo muito diferente daquilo
que nossos clientes estavam acostumados a ver e a comprar.
Também levamos boa parte das roupas do desfile para serem
vendidas na lojas, mas não era aquilo que nosso clientes
queriam comprar, o que fez nossas vendas despencarem
absurdamente. Em seis meses, a situação ficou tão ruim
que achei que seria obrigado a fechar. O erro foi deixar
de pensar no meu público. Para tirar a empresa do estado
de emergência, demitimos todos os 12 funcionários da
área comercial. Pessoalmente renegociei contratos com
fornecedores e refinanciei uma dívida fiscal.
Passado esse momento difícil, em 2005 decidimos ampliar
nossa participação nas ruas. Até então, havia apenas duas
lojas tng fora dos shoppings – em Londrina e em São
Paulo. Para testar o interesse do público de rua, colocamos
ao lado do logotipo uma placa com os dizeres “Outlet”,
pensando que apresentá-la como loja de descontos seduziria
o público, mas nos enganamos. Logo percebemos o erro,
tiramos a palavra da fachada da maioria das lojas, e
mantivemos uma pequena área para as peças em promoção,
e hoje, as lojas de rua respondem por 10% das vendas.